Seletividade alimentar

“Meu filho não come”
Esta é uma queixa muito comum nos consultórios de pediatras e nutricionistas infantis.

Seletividade alimentar

“Meu filho não come”. Esta é uma queixa muito comum nos consultórios de pediatras e nutricionistas infantis.

A seletividade alimentar refere-se à escolha restrita de alimentos, muitas vezes associada à recusa a experimentar novos sabores, texturas ou determinados grupos de alimentos.

Embora seja mais comum observar seletividade alimentar em crianças, ela pode persistir na idade adulta, impactando negativamente a variedade e qualidade da dieta.

A seletividade alimentar pode apresentar diferentes graus, podendo variar entre quadros leves, com consumo de menor variedade de alimentos do que a média, até casos mais graves observados no chamado Distúrbio Alimentar Pediátrico (DAP), em que pode ocorrer recusa alimentar persistente e comportamentos alimentares extremos, associados a elevada ansiedade e estresse no momento da refeição.

Características observadas no comportamento alimentar das crianças seletivas:

▫ Possuem baixa variedade alimentar.
▫ Recusam categorias inteiras de alimentos, baseado em sua textura, sabor, aparência, temperatura ou grupo alimentar.
▫ Selecionam um novo alimento e permanecem com ele por muito tempo. Subitamente, passam a recusar.
▫ Apresentam comportamento de fuga quando novos alimentos são apresentados.
▫ Normalmente comem alimentos diferentes do restante da família.
▫ Não aceitam formas diferentes de apresentação dos alimentos que consomem.
▫ Podem rejeitar alimentos que encostaram ou se misturaram a outros alimentos no prato.
▫ Apresentam rituais ao comer.
▫ As refeições são momentos de ansiedade e estresse para toda a família.

Causas Comuns

▫ Orgânicas: alergias alimentares, refluxo gastroesofágico, infecções de garganta e ouvido frequentes, constipação crônica grave, dentição.
▫ Sensoriais: hipersensibilidades a texturas, cheiros, temperaturas extremas (muito quente e/ou muito frio), cores.
▫ Inabilidades motoras orais: freio da língua curto, prematuridade, dificuldade de sucção, mastigação e deglutição.
▫ Comportamentais: experiências passadas negativas com a alimentação (náuseas, vômitos, alimentação forçada), temperamento enérgico e inflexível.

Impacto na Saúde

A criança que não quer comer é sempre motivo de grande preocupação para os pais e familiares, já que a seletividade alimentar pode resultar em deficiências nutricionais, desequilíbrio energético (levando ao baixo peso ou à obesidade) e problemas de saúde a longo prazo.

A diversidade alimentar é crucial para garantir a ingestão adequada de nutrientes essenciais para a saúde e bem-estar e o tratamento da seletividade é crucial.

Tratamento

O tratamento compreende a identificação das causas e a implementação de estratégias práticas individualizadas, por meio de orientação parental e terapias de alimentação responsiva.

O objetivo é restabelecer uma relação prazerosa com a alimentação, livre de pressões, ansiedade e tensão, proporcionando à criança as condições necessárias para que ela tenha contato com os alimentos de maneira leve.

As terapias de alimentação responsiva compreendem sessões de aproximação gradual aos alimentos de forma lúdica e respeitando os limites de cada criança. Em conjunto, a orientação parental tem o objetivo de expandir esse contato respeitoso com o alimento em casa, orientando os pais e cuidadores sobre como conduzirem os momentos de alimentação no dia-a-dia

A seletividade alimentar é um desafio que deve ser superado com paciência, compreensão e abordagens cuidadosas. Quanto mais precoce for o tratamento, mais rápido e mais eficaz ele será

Seletividade alimentar no TEA e TDAH

Alguns transtornos do neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) predispõe à seletividade alimentar e ao Distúrbio Alimentar Pediátrico (DAP).

Enquanto a prevalência do DAP é de 10 a 20% das crianças na população geral, pelo menos 70% das crianças com TEA apresentam DAP.

Isso ocorre porque normalmente os fatores de risco para as dificuldades alimentares estão amplificados nesses transtornos: presença alergias, intolerâncias, transtornos gastrointestinais, hipersensibilidades exacerbadas, déficits de habilidades, dificuldades motoras orais, comportamento pouco flexível, necessidade de controle e previsibilidade, dificuldade com as emoções, dificuldade de interação social, etc.

O tratamento da seletividade alimentar no TEA e TDAH (seja infantil ou adulto) permite ampliar o repertório alimentar do paciente respeitando suas dificuldades sensoriais e sua rigidez de comportamento. A chave é a orientação individualizada e focada nos principais desafios de cada indivíduo, atuando sempre em conjunto com a equipe multidisciplinar do paciente (fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo, psiquiatra, neurologista, gastroenterologista, etc).

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